1. Para dizer a verdade – e ainda faltam quase quinze dias – já vou ficando enfartado com a praga de comentadores e de comendadores que a toda a hora, e em tudo o que é sítio, nos saem ao caminho com análises e profecias de futurologia eleitoral.
A maioria deles – politicamente falando – tresandam a mau hálito: ou são politólogos de refugo, ou independentes do independantes.
O seu drama existencial é que, como são imensos – e para não perderem os lugares – têm de ser todos diferentes uns dos outros. E aí é que a porca torce o rabo. Porque, com a obsessão de serem originais, esquecem o óbvio. E com a obsessão de serem diferentes, resvalam para o delírio.
É por tudo isto e muito mais que, ao fim de trinta e sete anos de democracia, já vai sendo tempo de falar, não do voto útil, mas do voto inútil.
Este voto, o inútil, é por definição o que não serve rigorosamente para nada. E só atrapalha as contas. É um acto tão leviano, tão desatento e tão ineficaz, que só serve para não servir.
2. No próximo dia 5 de Junho há eleições. E as pessoas que não forem à praia, vão votar.
Desta vez – pela primeira vez desde 1975 – nunca foi tão fácil decidir.
Porquê?
Por uma razão simples: em eleições anteriores, os tais comentadores comendadores, juravam a quem os quisesse ouvir, que o PS era igual ao PSD, e que o PSD era igual ao PS. (Aliás, tanto Jerónimo de Sousa como Francisco Louçã ainda hoje continuam a apregoar essa patranha).
Mas desta vez não é assim.
Desta vez é mais fácil escolher. O que também significa que é mais fácil rejeitar.
É que o PSD, pela mão do dr. Passos Coelho, avançou com um programa tão radical e tão à direita que – mesmo com falinhas mansas e algumas catroguices – já muita gente percebeu que aquilo é mesmo a doer e a tirar. Mas a doer a quem e a tirar o quê?
Aos que não têm dinheiro para irem tratarem-se em hospitais privados.
Aos que não têm meios para pagar escolas e universidades privadas para os filhos.
Aos que – atenção! – vão ter de trabalhar mais anos para receber menos na reforma.
É por isto e muito mais que, desta vez, é mais fácil votar: ou se escolhe o garrote e o chicote, ou se avança por outro caminho mais justo e mais seguro.
E, quem disser que isto é demagogia, que espere pela pancada.
3. Estamos assim chegados à questão do voto inútil, o tal que não serve para nada. Isto é, até serve. Serve exactamente para, uma vez entrado na urna, nos cair estrondosamente em cima.
E é por isso que me permito deixar duas questões muito simples e concretas aos simpatizantes não ortodoxos do Bloco de Esquerda e da CDU.
- Se quiserem oferecer um presente eleitoral ao dr. Passos Coelho, façam o favor de continuar a votar como têm votado nos últimos anos. E o PSD agradece penhorado este voto inútil.
- Mas, se quiserem evitar que isto aconteça, tenham a lucidez e o pragmatismo que o dr. Álvaro Cunhal revelou em 1985 quando- para evitar que fosse eleito um Presidente da República de direita – disse aos comunistas: "Não olhem para a cara do Mário Soares, mas ponham lá a cruzinha"!
E assim o dr. Cunhal provou que pode não haver votos inúteis. Isto é aqueles que não servem para nada.
E agora a escolha, é vossa.
Ps.– O preço do petróleo continua a baixar. Hoje desceu aos 109 dólares por barril. Também a valorização do euro em relação ao dólar significa que agora se pode comprar mais petróleo com menos euros. Tudo isto deveria obrigar a uma pronunciada descida dos preços da gasolina e do gasóleo. Mas não. Pelo contrário.
Quando, em 2008, o preço do petróleo subiu aos 147 dólares a gasolina 95 atingiu 1,50 euros (300 escudos). Hoje, com o petróleo a 109 dólares, a gasolina está a 1,65 euros, 330 escudos! Feitas as contas, deveria estar, no máximo, a 1,11 euros (222 escudos)!
Só espero é que o próximo governo – seja ele qual for – acabe com esta roubalheira.