Assim
Por: José Niza
Politicamente, em Portugal, está a jogar-se a roleta russa.
1. De um lado, aqueles que, encavalitados em ideologias radicais de esquerda, fazem do bota-abaixo o seu programa e a sua prática política do dia a dia.
Estou naturalmente a referir-me ao Bloco de Esquerda e ao Partido Comunista Português (e escrevo "português" porque já não existem outros a sério em mais nenhum país), que ainda sonham com os amanhãs que cantam do trotskismo e do comunismo. Os seus contributos para o País reduzem-se a pouco mais do que à mobilização de greves ou à agitada excitação das moções de censura. Num mundo em ebulição, cada vez mais complexo e imprevisível – como se está a ver nos países do Norte de África – esses partidos ainda não perceberam, ou não querem perceber, que hoje a fronteira entre a esquerda e a direita tem, de um lado, um socialismo viável, moderno e moderado, e do outro, um neo-liberalismo feroz e sem rosto, o mesmo que criminosamente estoirou com as economias ocidentais.
2. Do outro, à direita, o PSD trocou a sua matriz social-democrata pelo neo-liberalismo de Passos Coelho. E o CDS continua na beira da estrada política a pedir boleia, já que fez do "auto-stop" o seu único desígnio partidário.
Nada disto é ilegítimo. Mas pode ser perigoso.
É que, sendo a alternância uma constante das democracias ocidentais, é também obrigatório que se constitua em alternativa. E que seja assumida sem rodeios nem problemas. E que seja explicada sem subterfúgios.
Há dias assisti na televisão a uma entrevista de Pedro Passos Coelho, candidato a Primeiro Ministro. Foi uma conversa de charme político, porque o líder da oposição não teve a seriedade política, nem a coragem, de assumir na televisão o que tem vindo a propor ao País.
Quem tenha um pouco de memória não terá esquecido algumas propostas de Passos Coelho. Lembram-se de que o líder da Oposição já defendeu que por cada cinco funcionários públicos que saíssem só entraria um? E como funcionariam depois os hospitais e as escolas? Lembram-se de que Passos Coelho, na sua proposta de revisão constitucional, quer acabar com a justa causa nos despedimentos? Pois eu lembro-me. E lembram-se ainda de que, não contente com isso, propõe também o fim da tendencial gratuitidade do Serviço Nacional de Saúde? E, pela mesma ordem de razões, também no ensino público?
Pois é.
Mas não fui eu que inventei.
3. Os nossos quatro maiores bancos privados – Banco Espírito Santo, Santander Totta, BCP e BPI – tiveram lucros, em 2010, de 3,9 milhões de euros por dia. O que dá 1,43 mil milhões/ ano. Num país onde, para toda a gente, os impostos subiram brutalmente, estes nossos queridos bancos – que já antes pagavam um IRC escandalosamente baixo- conseguiram a proeza de reduzir, ainda mais, esse mesmo imposto em 54,9 % : são só 168 milhões de euros que vão para os bolsos dos accionistas, em vez de entrarem nos cofres do Estado. Curiosamente, não vi o neo-liberal Passos Coelho a censurar o Governo por permitir esta vergonha.
Mas censuro eu!
4. Por tudo e por nada, dois dos homens mais ricos de Portugal censuram o Governo arrotando sentenças do alto dos seus tronos. São eles Belmiro de Azevedo, patrão da Sonae, dos Modelos e dos Continentes e Soares dos Santos, dono dos Pingo Doce. Gabam-se eles de terem criado muitos empregos nos seus supermercados. É verdade. O que eles não dizem é quantas dezenas de milhar de pequenas lojas, lugares, talhos, mercearias, peixarias, fecharam. E quantas dezenas de milhar de trabalhadores perderam os empregos por causa deles. Curiosamente não vi Passos Coelho a censurar o Governo por permitir tanta injustiça social. Não censurou ele, mas censuro eu!