Por:
José Niza
"Os pobrezinhos
tão engraçados
fazem fortunas
com mil cuidados"
Há um Pai Natal, o qual, alegre e caridosamente, anda por aí a distribuir presentes, benesses, ofertas, privilégios, oferendas, lembranças, eu sei lá.
À falta de outro nome melhor, chamemos-lhe Estado. Estado Português.
Já lá vão os tempos em que eram os ricos que davam esmolas aos pobres. Hoje não, é ao contrário. Parafraseando o Ary, o Natal dos ricos é sempre quando eles quiserem. Não podendo ser mais, são apenas 365 dias por ano. E é uma alegria quando chegam os bissextos…
Os nossos ricos pobrezinhos merecem tudo. Por exemplo, os sem-abrigo da GALP. Quando, em 2008, o petróleo chegou aos 147 dólares por barril, a gasolina custava 300 escudos (um euro e meio). Hoje, com o petróleo a 91 dólares (menos 40%) a gasolina é vendida ao mesmo preço de há dois anos. Quem se der ao trabalho de fazer uma simples regra de três simples chegará à conclusão de que a gasolina devia ser vendida, não a um euro e meio, mas a 92,5 cêntimos! Isto é, a menos 115 escudos por litro. Quando um espoliado e exaurido cidadão enche o depósito do carro, está a oferecer a mais à GALP 34,5 euros (quase 7 mil escudos)! Para a nossa querida gasolineira, aqui vão as Boas Festas e um Feliz e Santo Natal.
Outra divina dádiva do nosso (ou deles?) Banco de Portugal foi a de subir para 33% o juro dos créditos, por exemplo, em supermercados como o Pingo Doce. Quem, para o futuro, comprar fiado um frango ou um detergente neste filantrópico espaço, prepare-se para pagar esta brutalidade: 33%. Esquecendo a demagogia populista das linhas anteriores, a verdade é que os donos do Pingo Doce até tiveram um terrível ano de 2010 e merecem todo o nosso apoio, compreensão e solidariedade natalícia. Senão, reparem: as acções na bolsa subiram só 70,9 %; e, com os lucros, foi um autêntico descalabro: apenas 200 milhões de euros. Perante tão trágica hecatombe, como é que a Jerónimo Martins não havia de antecipar a distribuição de dividendos fugindo aos impostos de 2011? Que tenha um doce Natal sem um pingo de chuva. E uma feliz consoada.
O Pai Natal também não se esqueceu de fazer uma solidária visita aos "off-shores" da Madeira, por onde passaram este ano à volta de 20mil milhões de euros sem pagar às nossas finanças um único cêntimo de impostos. Patrioticamente, a EDP – e mais uma vez a GALP – foram as primeiras a recorrer à caridadezinha madeirense. Mister Off-Shore: Feliz Natal e Melhor Ano Novo. Ou, como dizia o outro: "Yes, they can"!
Mais um exemplo de infinita caridade natalícia – que aliás, e aparentemente, passou despercebido ao senhor Presidente, embora lá tenha velhos e grandes amigos – foi o facto de, pelo menos, 20 ex-administradores e ex-directores do BPN continuarem a receber os seus chorudos ordenados em vez de estarem a ver o sol aos quadradinhos. Se isto não é o Natal, onde é que está o Natal? E, já agora, onde estão também os 2 mil milhões de euros a que esses senhores ilusionistas deram descaminho?
Também neste Natal único e inesquecível os nossos partidos políticos se ofereceram a si próprios prendas de Natal nunca vistas antes. Que belo e exemplar exemplo deram aos Portugueses que, uma vez mais, vão pagar a factura: mais cartazes coloridos, mais "outdoors", mais esferográficas, mais bandeiras, mais sacos de plástico, mais balões, mais autocolantes, mais camionetas, mais calendários, mais "pins", mais febras com batatas fritas, mais tempos de antena spielberguianos, mais agências de comunicação, mais Quins Barreiros, mais cachecóis, uff!
Como um bem nunca vem só, é chegada a hora de acender as velas da árvore natalícia da PT – P, de Portugal, entenda-se – que não tendo cofres suficientemente grandes para guardar os 7 mil milhões do negócio dos telemóveis do Brasil, resolveu transformá-los em dividendos natalícios. E, tal como os supermercados do Pingo Doce, ou a Portucel, ou a Semapa, fintou os impostos. Patrioticamente. À Ronaldo.
Mas, vendo bem as coisas, a que propósito é que o Estado havia de receber prendas de Natal