Por: José Niza
Na passada semana aqui escrevi e demonstrei que o PSD, por ter sido responsável pelas crises mais graves que Portugal atravessou desde o 25 de Abril (vidè 1983 e 2005) – crises essas que o PS teve de resolver com o sacrifício da maioria dos Portugueses – não possuía legitimidade política que explicasse o comportamento irresponsável que está diariamente a demonstrar em relação ao Orçamento do Estado.
A situação que neste momento existe em Portugal constitui uma séria preocupação para todos nós e um enorme desafio para os políticos que melhor a conhecem e aos quais compete enfrentá-la e resolvê-la. Pelo que se tem dito e escrito sobre a matéria, todos os Portugueses já perceberam que a coisa está negra, que exige soluções drásticas a doer e que não há volta a dar. Sobre ela se têm pronunciado os opinadores e comentadores de serviço, mesmo aqueles que tendo sido responsáveis por situações idênticas, falam agora de cátedra acreditando que o Povo não tem memória.
Nunca um Orçamento foi tão falado, discutido e criticado mesmo antes de existir. E isso é bom porque contribui para que as pessoas tomem consciência da dimensão dramática do que está em causa e para que compreendam e "aceitem" a inevitabilidade das medidas a tomar. Por parte dos partidos da oposição é natural que existam posições diferenciadas de acordo com a matriz ideológica de cada um, o que só prova que, em Portugal, a democracia funciona.
Quanto às medidas a adoptar – que o Orçamento terá de enunciar e quantificar – ninguém contesta a inevitabilidade da diminuição das despesas públicas e de um aumento das receitas do Estado. E isto é tão óbvio que nem merece discussão.
É no entanto a partir daqui que começam as contradições, a demagogia, o irrealismo, o populismo e o oportunismo. É a partir daqui que perigosamente se começam a misturar e a trocar os interesses do País pelos ganhos partidários. É aqui que se começa a brincar com o fogo.
CDS, PCP, Bloco de Esquerda – e, sobretudo, o PSD – todos afirmam ter soluções miraculosas para resolver os problemas com que nos confrontamos. Mas todos eles rejeitam soluções infelizmente inevitáveis como, por exemplo, a redução de salários, o corte de alguns benefícios sociais ou o aumento de alguns impostos. Ao mesmo tempo que criticam e rejeitam, não são capazes de apresentar soluções ou propostas alternativas para resolver as situações que identificam e denunciam. Não é isto uma irresponsabilidade populista?
Antes de o Governo ter apresentado as medidas recentemente anunciadas, já o PSD bramava, exigia e ameaçava que só viabializaria o Orçamento se houvessem significativos cortes na despesa pública e não se verificasse um aumento de impostos, proposta esta tão simpática quanto irrealizável e tão inviável como a descoberta do elixir da longa vida ou da quadratura do círculo. Bem vistas as coisas nem sequer se trata de uma proposta, mas sim de uma exigência em forma de ultimato. E tudo isto é tão irresponsável que até os mais ferozes críticos do governo – a começar por Medina Carreira e a acabar em Marcelo Rebelo de Sousa e Alberto João Jardim, passando ainda por Manuela Ferreira Leite, Paulo Rangel ou Pacheco Pereira – todos eles já instaram publicamente Passos Coelho a viabilizar o Orçamento por não haver melhor saída. É caso para dizer, como se dizia antes: "Se isto não é o PSD, onde é que está o PSD"?
A ideia que começa a perpassar e a preocupar é a de que a direcção do PSD – que nunca acreditou que o PS cortasse tão drasticamente na despesa pública como sempre exigiu – ficou agora completamente desarmada e sem argumentos ao constatar que o governo, afinal, tinha ido muito mais longe. E, por isso, ficou engasgada a disparar ameaças sem sentido e a prometer soluções miraculosas e alternativas às do governo, mas que só revelará aquando do debate sobre o Orçamento. Será que existem mesmo? Quais são? E onde estão?
A cada dia que passa a situação agrava-se, a resistência psicológica dos Portugueses está a ficar mais enfraquecida, e a impaciência cresce. Simultaneamente, a imagem e a credibilidade internacional de Portugal anda pelas ruas da amargura. E demorará muito tempo a recuperar.
A somar a tudo isto e para animar a festa, aí vem uma greve geral que não servirá para nada a não ser para somar mais um dia de paralisação laboral aos milhentos dias de férias, sábados e domingos, pontes, feriados nacionais e municipais, etc.
Como aqui escrevi e demonstrei em 2 de Julho passado, em Portugal, por cada dia de trabalho há um dia de descanso!
Não seria melhor trabalhar-se um pouco mais e um pouco melhor?