Por: José Niza
Não estou especialmente curioso em saber quem será o próximo presidente do PSD: "que venha o diabo e escolha".
Mas, por outro lado, estou muito interessado em saber qual o candidato a primeiro-ministro que o PSD apresentará às próximas eleições. É que, à medida que a luta entre Pedro Passos Coelho, Paulo Rangel e Aguiar Branco aquece e se radicaliza, esse meu interesse cada vez mais se transforma em preocupação: este crescendo populista do género "um diz mata outro diz esfola" – em que nenhum quer ficar atrás do outro – é o fecundo caldo de cultura da asneira à solta.
Mais tarde ou mais cedo – tudo indica que mais tarde do que cedo – o PSD voltará ao poder e formará governo. Mas, infelizmente para o País – e por aquilo que se tem visto, ouvido e lido – ninguém consegue vislumbrar em qualquer dos candidatos um futuro Primeiro-ministro para Portugal. E tudo faz prever que não será ainda desta vez que o PSD conseguirá eleger um líder com capacidade para unir e fortalecer o partido, e muito menos para chegar aos calcanhares de Sá Carneiro ou Cavaco Silva.
Os debates até agora realizados entre os candidatos têm revelado que – para além de algumas pequenas diferenças que os separam – há urna trilogia que os une, a trilogia dos três "Is": irrealismo, incompetência e irresponsabilidade. Sobretudo, irresponsabilidade.
O maior e mais grave exemplo disso foi dado há dias por Pedro Passos Coelho, o candidato que até me parecia reunir melhores qualidades e ter as ideias mais arrumadas. Mas, por mais estranho que pareça, a maior barbaridade até hoje proferida na campanha nem um único comentário mereceu aos sonolentos politólogos que por aí pululam, nem qualquer reacção crítica dos nossos zelosos e aguerridos sindicatos.
Mas, afinal, o que é que o homem disse?
Disse que – para a salvação das finanças do País – tinha descoberto uma infalível e mágica solução: com ele ao leme do governo, por cada cinco funcionários que deixassem a função pública, só entraria um!
Feitas as contas – e num futuro próximo – o número de servidores do Estado ficaria reduzido a uma quinta parte dos que actualmente existem: um corte de 80%!
Acontece que os trabalhadores da função pública não são criaturas abstractas: são pessoas concretas, como nós, que desempenham profissões concretas, úteis e necessárias. A grande maioria destes funcionários não são, nem excedentários, nem preguiçosos, nem incompetentes: são homens e mulheres como toda a gente. E, como toda a gente, uns são melhores, outros piores.
Saberá Passos Coelho quem eles são, o que é que fazem e para o que é que servem?
Saberá ele que a sua solução "exterminaria" centenas de milhares de funcionários, escorraçados do acesso à função pública e despejados no desemprego?
Terá Passos Coelho pensado – ele que até foi líder da Juventude Social Democrata – onde iriam os jovens arranjar emprego e sobreviver?
Saberá Passos Coelho que com apenas 20% dos professores hoje existentes ninguém ensinaria os nossos filhos e os nossos netos, nem seria cumprido o sagrado direito constitucional à educação?
Saberá Pedro Passos Coelho que os nossos hospitais entrariam em colapso se em meia dúzia de anos perdessem 80% dos seus médicos e enfermeiros? E o sagrado e intocável direito à saúde, a maior dádiva do 25 de Abril aos portugueses?
E os polícias? E os GNR's? E os militares? E os bombeiros? E os indesejados homens das finanças? E os juízes e magistrados, apesar da justiça lenta? E os homens do lixo que limpam a rua onde vive Pedro Passos Coelho?
Passos Coelho defende a segurança das pessoas, mas quer correr com os polícias. Quer melhorar o ensino, mas quer ficar sem professores. Quer melhor saúde para os portugueses, mas só desde que não sejam precisos nem médicos nem enfermeiros.
Fico me por aqui. Não quero acreditar.
É o fim.
PS. 1 – Esta solução final também se pode aplicar ao PSD: por cada cinco líderes despedidos, só um pode entrar! Que é exactamente o que está a acontecer.
PS. 2 – Meus caros Ângelo Correia e Miguel Relvas foi o Pedro que entrou em roda livre, ou foram vocês que perderam o tino? A continuar assim, ainda ganha o homem do