"Segundo o "Sol" e alguns pasquins ejaculadores do seu veneno, o tentacular plano abrange o domínio dos mais importantes órgãos de comunicação social do País: a SIC, a TVI, o Expresso, o Público, o DN, o JN, o Correio da Manhã, o Record, a Visão, a Sábado, a Caras ou ainda algumas emissoras de rádio. Tudo isto e muito mais, estaria no "rol de compras" do poder. (Só não perdoo é que este nosso jornal O Ribatejo tenha ficado de fora: acho isso uma inqualificável exclusão!).
A esta delirante congeminação falta acrescentar dois pormenores: 1º.- O custo desta montanha mediática rondaria – mais coisa, menos coisa – umas míseras dezenas de biliões de euros; 2º.- Proibindo a Lei e os costumes que o Governo entrasse no negócio, quem seria o comprador?
Quem veja televisão, ou passe por um quiosque de jornais e leia os títulos, ficará estupefacto: o que é que se passa? Existe mesmo um tenebroso plano de controlo dos media por parte do Governo?
2.
Para começar, é certo que nenhum português com sanidade mental dentro dos limites da normalidade acredita em tenebrosos planos como este. As pessoas sabem distinguir entre a liberdade de informar e a libertinagem de acusar. As pessoas sabem distinguir entre o jornalismo das canetas honestas e o jornaleirismo de sarjeta, sórdido, nojento e doentio. Do lado de fora da barricada da verdade acantona-se uma escória de escribas e falantes, os crespos, os saraivas, os fernandes, os monizes, as manelas, as cabritas. Do outro, gente respeitada e prestigiada como Miguel Sousa Tavares, Ferreira Fernandes, ou o meu velho amigo Daniel Proença de Carvalho que numa entrevista ao "i" considerou toda esta tramóia "um plano tão estúpido, tão absurdo e tão irrealizável" que não passa pela cabeça de ninguém. Por seu lado, Miguel Sousa Tavares, no último Expresso, declarou "o nojo que (lhe) causa a revelação de "verdades" arrancadas à custa da divulgação de conversas telefónicas ou presenciais privadas, do atropelo sem vergonha ao segredo de justiça"…, e ainda que "uma vez declaradas sem interesse para a investigação, as escutas só servem para o "voyeurismo jornalístico" ou para os "julgamentos populares". Finalmente Ferreira Fernandes sentenciou que "naquela edição do Sol não estava lá nada sobre o assunto".
Quando a desagregação das mentes e o delírio vingativo das ideias chegam ao ponto a que chegaram, o único e último recurso é chamar a Psiquiatria. (Até porque a Justiça, já nem se faz respeitar, nem é cumprida). Passemos ao essencial.
3.
Há anos que Sócrates tem vindo a ser acusado de tudo e mais alguma coisa: que era homossexual, que tinha um diploma falso, que não era engenheiro, que tinha recebido luvas do Freeport, que tinha mandado fazer escutas a Cavaco e, finalmente, que tinha engendrado um plano maquiavélico de controlo da comunicação social. Apesar de tudo isto os portugueses deram-lhe duas vitórias eleitorais. Umas atrás das outras, as suspeitas e acusações foram caindo. Mas, mal uma caía, logo outras renasciam. O caso Face Oculta – uma negociata de ferros-velhos, sucatas e corrupções – converteu-se, por golpe de magia, num "escândalo" de controlo dos media. Tudo isto, para além de delirante, é maquiavélico. Mas há aqui um "esquema": estas coisas não acontecem por acaso.
Quando, no congresso do PS e noutras ocasiões, Sócrates "chamou os bois pelos nomes" e denunciou os "jornalistas" que o perseguiam com mentiras, calúnias e injúrias, o Primeiro Ministro reagiu como um cidadão comum que se sente acossado e injustiçado. E, se o fez publicamente e à luz do dia, foi porque pratica a lealdade e a frontalidade: "Quem não se sente, não é filho de boa gente"! Ou será que em Portugal todos têm direito à indignação excepto o Primeiro Ministro?
Vamos agora à raiz das coisas.
4.
Na órbita deste delírio jornalístico há oportunismo (se não mesmo cumplicidades). Refiro-me a políticos que cavalgam esta onda como Paulo Rangel, que não teve pejo em colocar de rastos a imagem de Portugal na Europa, ou Aguiar-Branco, líder parlamentar do PSD e simultaneamente presidente da assembleia geral da Impresa, proprietária da SIC, Expresso, Visão, etc. (Se fosse alguém do PS…)
P.S. –
No sábado, o Expresso divulgou uma sondagem que espantosamente ninguém comentou: o PS subia para
38 %, mais do que nas eleições; o PSD descia para 26 %; e Sócrates aumentava a sua popularidade em 2 %. Decididamente, o Zé Povinho já percebeu tudo. E está-se marimbando para tanta maquinação (O Ribatejo)