.A ESCADA DE PENROSE
- ( O Jumento) repescou
«TUDO BONS RAPAZES
Mário Crespo
Na edição de dia 2 de Janeiro de 2009 do jornal Público, Eduardo Cintra Torres, insuspeito de simpatia pelo governo, escrevia dele o seguinte:
Em Maio do ano passado, o também insuspeito João Gonçalves explicava assim a súbita metamorfose:
Mário Crespo andou um tempão a servir a agenda do governo no seu programa Jornal das 9. A cadeira dos convidados parecia a cadeira do poder, de tanto que nela se sentaram os ministros Silva Pereira e Santos Silva. No auge desta opção editorial, o jornalista afirmou em entrevista ao Semanário Económico (15.01.09) que nas próximas eleições "provavelmente" votará (ou votaria) Sócrates; e noutra entrevista, ao CM (12.01.09), disse que "provavelmente" irá (ou iria) em breve para Washington por grandes temporadas (por coincidência, foi anunciado esta semana pelo Diário da República que o próximo conselheiro de imprensa em Washington será Carneiro Jacinto, ligado ao PS). Entretanto, a linha editorial de Crespo mudou, e de que maneira, quer no seu programa, quer nos seus artigos de opinião no Jornal de Notícias. Passou a criticar abertamente o poder PS; os ministros políticos do governo já não aquecem a cadeira do Jornal das 9. Crespo não explicou a sua radical mudança editorial entre Janeiro e Março, explicação que seria não só normal como desejável. Mudar de opinião não é crime, nem para um lado nem para o outro, mas 180 graus é muita mudança.
Um vintém é um vintém e um borra-botas é um borra-botas, e é natural que se comporte como tal. De limpa-babas de Kaúlza de Arriaga (foto por demais conhecida) a acende-cigarros de Mário Tomé (pesquise-se o Google por "Mário Crespo" "Mário Tomé"; a foto é de baixa qualidade), os sabujos não olham a ideologias. (Um aparte: Tomé esteve no lançamento do livro da criatura; do fantasma de Kaúlza não houve notícia de avistamento.) E quanto ao último número do artista, a mim pareceu-me um Naked Lunch, com direito a sequela.
José Eduardo Moniz
Relativamente a este (Manuela é inócua, uma marioneta nas mãos do marido), convém relembrar as suas relações com o poder laranja no tempo das maiorias cavaquistas, desta feita por Baptista-Bastos, creio que também livre de qualquer suspeita de simpatia pelo governo e pelo partido que o suporta. Escreveu ele no Diário de Notícias de 10 de Fevereiro:
Um ex-ministro, agora protestador grave e atroz, foi, na sombria década cavaquista, controleiro da RTP. E um dos agora acusadores da falta de liberdade era o zeloso varejeiro do noticiário. Não cauciono, de forma alguma, tentativas de domínio da imprensa pelo poder político. Mas não colaboro neste imbróglio, que tem estimulado a perda do sentido das coisas e a adulteração da verdade histórica. A reabilitação de falsos fantasmas apenas serve para se ocultar a medonha dimensão do que ocorreu na década de 80. Os saneamentos, a extinção de títulos, a substituição de direcções de jornais e a remoção de jornalistas incómodos por comissários flutuantes eram o pão nosso de cada dia. Já se esqueceram?
(Creio que não será difícil adivinhar quem são o ministro e o controleiro.)
A administração da RTP nomeada pelo último governo de Cavaco fez um acordo milionário com Moniz, para que este cessasse as suas funções na estação pública. No entanto, Moniz continuaria a trabalhar em exclusivo para a RTP, produzindo um mínimo de 60 horas de programação anuais. O contrato previa além disso uma remuneração fixa mensal de 870 contos ao ex-funcionário e uma cláusula indemnizatória, em caso de rescisão de contrato, de 1,2 milhões de contos. A história toda está relatada do Público de 16 de Maio de 2002. Entretanto, o ano passado terá alegadamente existido um plano do governo para dominar alguns órgãos de comunicação e afastar jornalistas incómodos. Entre eles estariam José Eduardo e Manuela, e uma das empresas envolvidas seria a Ongoing, que entretanto contratou Moniz quando este saiu da TVI pelo seu próprio pé. Confusos?
Semanário SOL
Resultando de uma cisão de jornalistas do Expresso, entre os quais o seu director, José António Saraiva, teve como accionistas fundadores a Comunicação Essencial, que agrupava as participações dos jornalistas, a JVC, de Joaquim Coimbra, militante do PSD, o BCP e a Imosider. [O facto de os dois semanários de referência terem estado simultaneamente sob a alçada do PSD (o Expresso pertence ao Grupo Impresa, de Balsemão) não parece ter suscitado nunca dúvidas quer aos reguladores quer aos recentes arautos da liberdade de expressão.]
Em 2009, o jornal é
Se estivéssemos nos Estados Unidos, tantas vezes apontados como modelo de virtudes pelas virgens agora ofendidas, como reagiriam os demais partidos políticos e os cidadãos se um jornal detido pela cúpula de um país estrangeiro atacasse desta forma o seu governo eleito? Tendo em conta os interesses por detrás do SOL, este ataque - é lícito perguntar - deve-se a quê? Terá o nosso embaixador em Luanda ou o MNE feito algum reparo à constituição recentemente aprovada pelo parlamento angolano? Estará algum acordo económico luso-angolano em cima da mesa ou alguma dívida daquele país prestes a vencer? Quererá Isabel dos Santos adquirir uma participação nalguma das empresas envolvidas no suposto plano e que se vêem agora fragilizadas? Ou trata-se de uma mera luta de audiências e de descredibilização de competidores, em que os fins justificam os meios?
O certo é que a versão do SOL que foi distribuída em Angola não inclui as duas páginas onde era referido Joaquim Oliveira, sócio da filha de Eduardo dos Santos na ZON e detentor de diversos interesses naquele país africano. Apesar das desculpas esfarrapadas dos responsáveis do jornal, o certo é que o SOL parece padecer inequivocamente de um problema de liberdade de expressão. O facto do mesmo se localizar noutro continente parece ser o suficiente para que perca qualquer significado. Bem prega frei Tomás...