«Os velhos do Quelhas
Tenho de confessar que pouco ou quase nada sei do abaixo assinado dos 28 economistas (mais ou menos uma turma nos meus tempos de estudante do ISE), ouvi um ou dois nomes de entre os muitos que assinaram e fiquei a saber que defendem que as grandes obras públicas sejam adiadas ou melhor estudadas, qualquer coisa assim. Não me interessei pelo assunto porque considerei a posição um fenómeno recorrente a que já aqui chamei fruta da época, quando ocorre um tsunami aparecem os vulcanólogos e meteorologistas, quando aparece uma nova estirpe da gripe é a vez dos epidemiologistas e por aí em diante, se o tema é a dívida externa é natural que estes ilustres estejam preocupados. As suas medidas têm para o futuro de Portugal a mesma importância que terá o sistema de detecção de tsunamis prometido por Pedro Santana Lopes.
Só que a dívida externa não foi provocada por nenhum sismo, não nos engoliu de repente, é antes uma vaga que ganha dimensões depois de uma enchente que dura há anos. E ao contrário do que muitos cidadãos podem concluir com esta tomada de posição, nem sequer é provocada principalmente pelas obras públicas, é antes o resultado do desequilíbrio das trocas comerciais com o exterior que, por sua vez, é alimentado pela perda de competitividade das empresas e pela expansão da procura de produtos importados.
Só que estes senhores, como já aqui se disse em várias ocasiões, andaram muito entretidos a defender reduções salariais e equilíbrios orçamentais, esquecendo que aquele que sempre foi o grande problema da economia portuguesa, o desequilíbrio comercial com o exterior. Graças ao conforto resultante da adesão ao euro esqueceram-se de que o facto de termos a mesma moeda que os nossos parceiros comerciais, inviabilizando desvalorizações, não significa que não tenhamos que pagar o que compramos.
Onde estiveram estes velhos do Quelhas nos últimos anos? O que disse Luís Cunha sobre o desequilíbrio comercial enquanto foi ministro das Finanças?
Ainda há poucos meses se discutiu a construção do novo aeroporto e muito destes senhores andavam preocupados com a localização. Um dos grupos que elaborou o estudo até analisava as questões de ordem económica, mas, pelo que se vê, esqueceram-se do mais importante, do pilim. Andaram meses a discutir a localização e agora dizem que o problema é o endividamento! Bem, ou são idiotas ou andam a gozar com os portugueses. A não ser que o endividamento externo nos tenha inundado de repente, como se fosse um tsunami de contas por pagar.
Independentemente do que se possa dizer das opiniões técnicas destes ilustres cérebros, há uma evidente desonestidade de quem usa o argumento do endividamento soa agora, como se fosse uma bomba H made in Coreia do Norte. O que digo dos velhos do Quelhas, digo do velho de Belém e outras velharias económicas que andam por aí. Apesar do ar sério com que faltam, há muita falta de seriedade em quem usa os indicadores económicos em função da conjuntura política. É como se um médico optasse por tratar um cancro com aspirinas porque está a meio da legislatura, apenas optando pela cirurgia em vésperas de eleições.
Além disso, devo dizer que não reconheço autoridade moral a alguns nomes que ouvi par falar em defesa do país, a gente que vive à grande e à francesa à custa de pensões oportunistas, que sempre demonstraram estar mais preocupados com as suas contas bancárias do que com a situação do país.»