16 novembro, 2012

Passos e Cavaco - temos que os aturar?

Seria importante saber quem, para o Presidente, diz a verdade ao País: o governo ou todos os que não acreditam nas suas previsões

O ministro da propaganda nazi Joseph Goebbels disse um dia que "uma mentira muitas vezes repetida torna-se verdade".

As declarações novamente proferidas hoje pelo primeiro-ministro inspiram-se na frase tristemente famosa desse personagem sinistro:Disse o PM que "Portugal está no caminho certo e que o processo de ajustamento em curso vai ter sucesso e que a direção que estamos a seguir é a correta".

(É, como se vê, uma questão de fé…mas o pior é se o primeiro-ministro acredita no que diz…)

Para ajudar a paranóia em que estamos mergulhados, o Presidente da República veio hoje citar-se a si próprio no discurso de 1 de Janeiro de 2010, lembrando que nessa altura alertou para a "situação insustentável". Pois é…mas enquanto então omitia a situação europeia e internacional, hoje atribui-lhe quase em exclusivo a responsabilidade dos maus resultados de todos os indicadores económicos do País. Para o Presidente " «nenhum outro país tem sido tão afetado pela situação que se vive em Espanha como Portugal», o que a «União Europeia não pode deixar de ter em conta». E até faz apelos e deixa recados ao Conselho Europeu para que "seja tida em conta a situação de países como Espanha, Itália, Grécia, Irlanda e Portugal."

Não duvido dos argumentos agora invocados pelo Presidente, apenas constato que usa dois pesos e duas medidas. E, mais notório ainda, ninguém lhe ouve uma opinião sobre se considera que, como afirma o primeiro-ministro, "a direcção que estamos a seguir é a correcta", limitando-se a invocar teorias e a fazer comentários circunstanciais e abstractos, como fez relativamente às novas previsões do Banco de Portugal, dizendo que «não são boas notícias».

Ficamos pois sem saber o que pensa o Presidente sobre os resultados do caminho que o governo e a troika consideram um "sucesso": continua o Presidente a pensar que ao fim de ano e meio de governo do seu partido a situação ainda é "insustentável"? E é mais ou menos sustentável? Ou o Presidente pensa que o governo não quer ou não sabe fazer nada e prefere fazer apelos à União Europeia?

Disse também o Presidente que está convencido que a chanceler Angela Merkel regressou ao seu país conhecendo melhor «a situação de Portugal e dos portugueses». Ora, na conferência de imprensa, realizada depois do encontro da chanceler com o Presidente, Merkel omitiu qualquer referência ao falhanço do programa da troika em Portugal, ignorando as perguntas dos jornalistas portugueses nesse sentido. Assim, das duas uma: ou a chanceler não ligou ao que o Presidente lhe disse sobre "a situação portuguesa e os portugueses" ou houve um problema de tradução…

Mas, enfim, ainda que a chanceler não queira falar sobre o que ficou a saber da "situação portuguesa e dos portugueses", vá que não vá…agora que o Presidente ouça o primeiro-ministro e o ministro das Finanças dizerem que está tudo a correr bem e que o caminho está correcto e fique calado perante estas afirmações, quando o Banco de Portugal, o INE, o Conselho de Finanças Públicas, o Conselho Económico e Social, todos os economistas e políticos da sua área dizem o contrário… é estranho, incompreensível e inaceitável.

Seria importante saber quem, para o Presidente, diz a verdade ao País: o governo ou todos aqueles que não acreditam nas suas previsões. ( vaievem )

 

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