Poeta da desobediência civil (inspirou Gandhi), o americano Henry Thoreau (1817-1862) escreveu: "Que fogo se pode igualar a um raio de sol num dia de inverno?" A Revolução Francesa de 1848 deu--se em pleno inverno, foi liderada por um poeta, Lamartine, inspirou Flaubert e Hugo. Incendiou as capitais europeias nas semanas seguintes e deu Constituições a Berlim, Munique, Viena, Turim...Chamaram a esse dias "a primavera dos povos", e foi o começo da Europa. Mais de um século depois, aconteceu a "primavera de Praga" e às duas vagas a favor da democracia na China, em 1979 e 1989, chamou-se "primavera de Pequim", dada a semelhança com 1848. Primaveras cheias de desejo pela democracia. Recentemente, aos levantamentos contra ditaduras em países muçulmanos, também se chamou "primavera árabe". Um erro, como chamar Luz à dona de uma burka. Todas as primaveras históricas referidas atrás, antes da árabe, representaram esperança e, apesar de algumas falharem, voltaram para a casa de partida, nunca para pior. Já as "primaveras árabes" estavam reféns do fascismo islâmico e é caso para dizer que felizmente não vingaram em Marrocos, Argélia, Síria, porque onde derrubaram os ditadores foi para ir para pior. "Primavera" passou de nome de esperança a marca de tragédia. Fez bem quem não batizou de "primavera" o que se passa hoje em Hong Kong e chamou-lhe "revolução dos guarda-sóis". Esta, sim, volta a sugerir o raio de que falou Thoreau. ( Ferreira Fernandes no DN)
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