21 dezembro, 2009

Dinheiro em quatro andamentos


Por:
José Niza

1. Numa recente reunião de banqueiros e de gente da alta finança, Fernando Ulrich, presidente do BPI, investiu contra o Banco de Portugal e contra o Governo: "Deixem-nos trabalhar!"

Isto traduzido para "banquês", significa: "Deixem-nos sacar à vontade! E não nos chateiem!"

Um ou dois dias depois, na primeira página do Diário de Notícias, escrevia-se: "Ter dinheiro no banco nunca valeu tão pouco".

 2. Há pouco mais de um ano, os banqueiros de todo o mundo – uns mais, outros menos – quase estoiravam com a economia do planeta: caos financeiro, falências, desemprego, fome. Estamos ainda – e vamos continuar – a sofrer as consequências da crise. A recuperação vai ser lenta e vai custar sangue, suor e lágrimas.

Em Portugal, os escândalos começaram com as roubalheiras no BCP de Jardim Gonçalves. Depois foi o BPN, um banco que – para azar de Cavaco Silva – foi erguido, construído e destruído por ex-ministros seus. E, finalmente, o BPP de João Rendeiro, que ao contrário de Madoff, continua alegremente à solta na sua mansão na Quinta Patiño.

A impunidade endémica, a justiça paralítica e a contratação dos melhores e mais caros advogados do País, conseguem eternizar os processos, adiar os julgamentos, e garantir uma "dolce vita" a essa corja de assaltantes do alheio.

Marimbando-se para os dramas de meio milhão de desempregados, para o encerramento diário de fábricas, para a falência em catadupa de pequenas empresas, os bancos continuam a declarar lucros provocatórios e exorbitantes.

Se bem repararem, eles nunca anunciam prejuízos. O que às vezes acontece é que, com lágrimas de crocodilo, declaram uma "diminuição de lucros", isto é, qualquer coisa que reduz o escândalo para a infâmia, ou o assalto à mão armada para o roubo por esticão.

 3. Recentemente, o Banco de Portugal tentou – muito timidamente e muito aquém do que seria justo e necessário – pôr cobro à chamada "usura" da banca nacional. Para isso fixou limites máximos para a cobrança de juros de empréstimos. Para o crédito pessoal o máximo são 19.6%. Para o crédito automóvel, 16,1%. E, para os cartões de crédito, 32.8%. (Sim, não é gralha, são mesmo 32,8%!)

Em contrapartida, quando um cidadão tem uma poupança para aplicar, por exemplo, num depósito a prazo, os mesmos bancos que cobram os juros atrás indicados oferecem-lhe entre 0,5% a 1% ao ano!

Vamos fazer uma simulação: eu tenho 10 mil euros para aplicar num depósito a prazo de um ano. Como me oferecem entre 0.5% e 1%, ao fim de um ano receberei entre 50 a 100 euros. Deduzindo, obrigatoriamente, 20% para o IRS, acabo por receber apenas entre 40 e 80 euros. Mas, como tenho um cartão de crédito, fui pagando despesas que atingiram um total também de 10 mil euros. Como tenho de pagar um juro de 32,8%, o banco vai cobrar-me a módica quantia de 3.280 euros!

Isto é, com os meus 10 mil euros – que são os que eu depositei a prazo – o banco paga-me, de juros, um máximo de 80 euros. Mas, simultaneamente, cobra-me 3.280 euros pelos créditos da utilização do cartão.

Em conclusão: com os meus 10 mil euros o banco, sem nenhum risco e menor trabalho, empochou a módica quantia de 3.200 euros! É como no totobola: "é fácil, é barato e dá milhões". Ou, como dizia o outro: "É fartar, vilanagem!"

 4. Acompanhando o que já está a vigorar em países como a França, a Alemanha ou a Inglaterra, o Governo propõe-se aplicar uma taxa sobre os "bónus" que os banqueiros recebem para além dos vencimentos, e que constituem uma espécie de comissão sobre os resultados conseguidos. Os valores destes "bónus" atingem montantes incalculáveis e chocantes. No Reino Unido o valor da taxa vai ser de 50% sobre todos os prémios. É a doer. Esperemos que, neste país de brandos costumes, a nossa taxa não venha a ter um valor simbólico.

 Para finalizar:

Não entendo a resistência do PS à "inversão do ónus da prova" em situações de "enriquecimento ilícito". O "meu" PS arrisca-se a ficar isolado no Parlamento, o que constituirá uma vergonha nacional, e entrará em colisão com a defesa dos seus valores mais profundos.

Não é passivamente, nem permissivamente, que se combate a corrupção. Nem para inverter o ónus da prova é preciso ter uma maioria absoluta. O Ribatejo

11 comentários:

  1. Anónimo22/12/09

    O Sr. Dr. José Niza tinha obrigação de botar outros discursos, até pela sua formação Académica! Será que o sol que apanhou na zona do Ambrizete o toldou? Por lá já mandava as suas papaias como Oficial Médico, mas não eram lá muito consistentes! Passados tantos anos, ainda dá uma no cravo e outra na ferradura! O tema que comentou, não é assim tão simples meu caro!

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  2. Anónimo22/12/09

    Quem assim escreve, não passou pela Guerra de Angola e por outro lado, nem critica o que aquele escreveu, apenas pretende criar o desabono do seu carácter como homem e como político.

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  3. Anónimo23/12/09

    Como Político?! Político de quê?! Abra os olhos e não diga asneiras!
    Político?! Essa é para rir!...

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  4. Anónimo23/12/09

    Digam o que disserem, José Niza tem razão. Acho até que foi muito brando no que escreveu.
    POR CÁ ANDO CAMARADA

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  5. Anónimo23/12/09

    Alguem deve andar aí a rir quando se vê ao espelho. Não há dúvida que é para rir... que escreve assim terá que se rir de si próprio. Critica a pessoa e não o que ela escreve. Mal, muito mal.

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  6. Anónimo24/12/09

    Alguém explica quem é José Niza e o que faz? Li os comentários mas fiquei a saber o mesmo. Já agora, agradecia.
    Manuel Castro

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  7. Anónimo26/12/09

    Meu Caro, se não sabe quem é José Niza também não vale a pena apresentá-lo.

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  8. Anónimo29/12/09

    Eu apenas queria a "sua apresentação"! Conheço o José Niza desde 1969, meu caro! Conhece Angola? Conhece Ambrizete? Conhece Zau Evua? Conhece Lufico? Sabe o que é um médico? Sabe o que é tocar guitarra? Já agora, sabe quem é José Niza? Pois é, o cavalheiro vai para lá, quando eu já de lá venho!
    José Niza foi, tão simplesmente, um grande companheiro militar!
    Acha que não sei quem é?!

    Manuel Castro

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  9. Anónimo30/12/09

    Manuel de Castro, pf va a www.bcac2877.blogspot.com é o blog do Batalhao de Caçadores

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  10. www.bcac2877.blogspot.com30/12/09

    Ao que sabemos, Jose Niza está um pouco "reformado" vivdndo proximo de Santarem

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  11. Anónimo30/12/09

    O José Niza não está um pouco reformado mas sim reformado. Mas mantém-se activo, claro, como qualquer outra pessoa. Vai dando uns toques com a guitarra e aparando a barba com os dedos, ao seu velho estilo, enquanto escreve uns artigos, como sempre gostou.
    Manuel Castro

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