04 maio, 2012

Incerteza

Do risco para a incerteza

por VIRIATO SOROMENHO-MARQUES

Os sucessivos anúncios de uma data para o regresso de Portugal aos mercados ou para o retorno do pagamento dos subsídios de férias e de Natal aos funcionários públicos não são apenas um sinal da contradição que, aparentemente, reina no interior do Governo, são sobretudo um indicador da profunda ignorância sobre a efetiva situação em que Portugal hoje se encontra, ou ainda, mais uma modalidade de simples simulação, instrumento retórico, infelizmente, muito abundante na vida política. O destino de Portugal está inteiramente vinculado ao agravamento da crise europeia, impropriamente designada como "crise das dívidas soberanas".
Na verdade, a Europa vive a agonizante contradição entre problemas de dimensão sistémica, que encontrariam uma resposta árdua mas triunfante através do método federal, e a exiguidade, tibieza e falta de adequação de respostas talhadas numa visão nacional. Em vez de uma cooperação a caminho do federalismo, a Europa tem respondido à crise com respostas competitivas e egoístas que só têm agravado os problemas, que supostamente visariam responder. O que está a acontecer é que a construção europeia está a passar da fase do risco para a fase da incerteza. A diferença entre os dois conceitos é a base do negócio das companhias de seguros. É possível segurar o risco do acidente de viação, pois posso calculá-lo, mas ninguém segura riscos associados a alterações climáticas, pois aí reina a incerteza. O tempo da Europa, e consequentemente de Portugal, já passou a fase do cálculo, para entrar na entropia da incerteza. O tempo não pertence a Vítor Gaspar, mas ao jogo de dados a que uns chamam deus, e outros azar.
Ninguém sabe quando, e se, Portugal voltará aos mercados.dn )

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