Semanada d ( O Jumento ), - uma análise nua e crua, como sempre
Esta semana ficará para a história do país como aquela em que Cavaco Silva pensou que Sócrates tinha falecido e decidiu fazer o seu elogio póstumo na cerimónia evocativa do 25 de Abril, uma cerimónia em que até o Lambretas apareceu de cravo na lapela, arriscando-se a uma ida para a urgência hospitalar pois, como é sabido, o homem só de ouvir falar de cravos tem um ataque de asma. Ver Cavaco Silva enunciar os sucessos de Sócrates prolongando o espaço temporal da sua realização de forma a dar a entender que também tinha dado o seu contributo enquanto primeiro-ministro só não nos levou a pensar que o Cavaco se tinha passado porque percebemos que era o Cavaco de Sempre quando ignorou o prémio Nobel de Saramago.
Enquanto Cavaco parecia querer fazer as pazes com Sócrates o primeiro-ministro estalava o verniz com a primeira crítica que lhe foi dirigida por Seguro. Desta vez o líder do PS deu um tiro no porta-aviões e deixou Passos Coelho em sérias dificuldades, até porque já começa a ser deprimente ver o primeiro-ministro ir para os debates parlamentares como um aluno calão que se apresenta a uma oral, o homem não sabe o que disseram os seus ministros, desconhece o que foi publicado em portarias governamentais, só falta saber se estamos perante um caso de falta de memória, de desconhecimento ou de incompetência.
Mais uns dias e Passos Coelho será um defensor de políticas de criação de emprego, Vitor Gaspar nunca disse que Álvaro que não havia dinheiro para estímulos à economia, com o Sarkozy a caminho de uma derrota eleitoral, a economia portuguesa à beira do colapso e a Europa a mudar de ideias o nosso primeiro-ministro está quase a declarar-se um keynesiano militante, mesmo que todos saibamos que ele pensa que Keynes foi um inglês adepto do Manchester United que no ano passado se afogou em Albufeira por ter ido tomar banho bêbado que nem um cacho.
Bêbados que nem uns cachos também parecem estar os nossos governantes, é preciso emborcar uma garrafa de bagaço para acreditar que a economia portuguesa vai crescer no segundo semestre como prevê Cavaco Silva e para acreditar em Vítor Gaspar quando diz que o défice estar sob controlo ou para estarmos convencidos de que vamos ao mercado no próximo ano. A bebedeira colectiva é tão grande, o optimismo dos nossos responsáveis é tão hilariante que chegamos a pensar que a Sogrape lançou uma opa sobre os palácios governamentais e transformou os Palácios de Belém e de São Bento em adegas. Dir-se-ia que querem enganar os portugueses como quem quer matar um peru, os que condenaram a classe média à miséria estão agora tentando embebedá-la na esperança de que esta gaste o que resta para evitar a espiral de recessão que o Gaspar tanto desejava, para depois aparecer como um Oliveira salvador da pátria.
Também digno de uma taberna é o debate e elição dos juízes do tribunal constitucional com uma presidente do parlamento a dar ares de seriedade. Dizem que os juízes devem ter experiência de tribunal e no caso de terem sido governantes devem ser sujeitos a prolongado tratamento de desintoxicação. Só que o PSD esquece que que a sua bela presidente do parlamento foi juiz do TC sem ter passado antes por um tribunal e quando foi eleita seguiu directamente do parlamento para o tribunal. Bem, parece que ser deputado é mais saudável do que ser governante." in ( O Jumento)
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