01 outubro, 2011

Cavaco Silva - Banalidades sem limites

A desmembrada conversa mantida na TVI pelo dr. Cavaco com Judite Sousa resultou numa funesta meia hora de banalidades
A desmembrada conversa mantida na TVI pelo dr. Cavaco com Judite Sousa resultou numa funesta meia hora de banalidades, apesar dos esforços da entrevistadora, do melhor que por aí há. Já se sabe que o homem não possui ideias de seu, e o que diz é o efeito de consultas apressadas a sebentas anacrónicas, retomadas como se de novidade se tratasse.

Confrange-me dizer que o Presidente da República Portuguesa não dispõe de porte intelectual nem de estilo e estirpe políticos que o recomendem ao nosso respeito. Respeito, aliás, é o que o dr. Cavaco nunca manifestou por nós, tratando-nos como beócios mal informados. O princípio e o conceito repetiram-se. Ausente de qualquer "humildade democrática" (para citar uma frase favorita do dr. Passos Coelho), o chefe de Estado trouxe para a sociedade portuguesa os trejeitos e os tiques de quem foi criado com autoritarismo e os tiques de quem não soube abandonar esses traumas com a chegada da maturidade. Haja Freud!

Ao fim de seis meses de ocupar a cadeira de Belém, e em vez de aliviar os seus silêncios com aquelas notas de redacção da terceira classe atrasada, o dr. Cavaco falou aos portugueses. E os portugueses boquiabertos com o vazio e estupefactos com a insignificância, perguntaram-se: para que foi este homem fazer perder tempo a Judite Sousa e molestar a nossa, já de si muito afectada, paciência?

Mas se o homem é mesmo assim, que mais se pode esperar?
 
"A jornalista bem tentou obter do Presidente uma breve, escassa, minguada opinião sobre o caso da ilha da Madeira; sobre as decisões governamentais de aplicação de impostos; sobre as anunciadas advertências do ministro das Finanças de que "para o ano vai ser pior"; recessão, impostos em cima de impostos, injustiças imediatamente a seguir a injustiças, eis alguns dos temas escaldantes a que o dr. Cavaco respondeu com evasivas, ambiguidades, subterfúgios, nada de concreto ou de previsível.

Mas como é que a economia vai crescer se, para o ano, a recessão será pesadíssima?, quis saber a entrevistadora. E lá veio o velho breviário das privatizações, da competitividade, do rácio, cuja natureza obedece a uma ideologia económica conhecida. O dr. Cavaco é um político dúbio, incapaz de explicar, politicamente, o que quer que seja. O discurso, repetitivo e maçador, é por demais conhecido. Esperava-se alguma coisa nova? Não o creio. A notícia que nos deu foi a de que vai reunir o Conselho de Estado e escutar opiniões a afim de decidir o que vai fazer. Aproveitou para elogiar o Governo e as tarefas empreendidas pelo Governo, até agora.

Nem um pensamento claro que alicerçasse uma ideia, diferente daquelas que conhecemos. Obediência à troika; submissão às resoluções do Executivo, que configuram a imposição de sentenças; sacrifícios sem alternativa. O costume.

Esta entrevista foi uma sequela dos silêncios a que, habitualmente, o dr. Cavaco se recolhe. Em rigor, ele nada revelou do que pensa; ou, melhor: do que oculta, não sabe ou ignora. Continuamos sem saber as suas reflexões (sem ironia) sobre cultura, embora ele seja lesto e categórico em atribuir qualificações superlativas a artistas, escritores falecidos. Não merece a pena registar acontecimentos recentes. Também sobre a questão social portuguesa o dr. Cavaco quedou-se num mutismo sepulcral, embora Judite Sousa bem se esforçasse para obter qualquer informação, por mínima que fosse.

Os comentadores da praxe disseram que sim, mas também não, ou, acaso, talvez. Chega a ser pungente assistir aos comentários de alguns preopinantes, que, nas televisões, apenas falam - e nada dizem. Um desses chegou a dizer, sem pudor, que o dr. Cavaco enviara alguns recados ao Governo e à… troika!

A entrevista valeu o que valeu, nada, e seria curial e pedagógico que alguns jornalistas dados ao "comentário" tivessem a coragem, não é coragem, é assunção do seu dever profissional, de desmontar a vacuidade de um homem que, como disse, há dias, Carlos do Carmo, tivemos a dolorosa infelicidade de o ter como primeiro-ministro e, depois, como Presidente da República.
Quem nos acode? "

Sem comentários:

Enviar um comentário