06 dezembro, 2009

Escutas ? PSD ?


Moita Flores escreve:

Impressão Digital

Escutas???

Há mais de um mês que a política portuguesa é dominada pelo tema das escutas que envolveram Armando Vara e José Sócrates. E debate-se tudo em torno das escutas, a legalidade ou ilegalidade, a divulgação ou não, se devem ser destruídas ou guardadas.

É o destrambelho total, sem-vergonha e ordinário. Os deputados despertaram agora para a corrupção e vão à pressa, apressadinhos, recuperar aquilo que há muito polícias e magistraturas defendem e que ano após ano, legislatura após legislatura, varreram para debaixo do tapete. Mas ao menos que discutam estes problemas essenciais sem atirar para o território sórdido, da mesquinhez ressabiada, acusações enviesadas, coisa própria dos cobardes.

O que a actual direcção do PSD está a fazer com a pressão e as insinuações sobre as escutas ultrapassa os níveis da decência, colocando-se dentro de uma redoma de actos em que os piores sentimentos humanos vêm à superfície. O ressabiamento pela derrota eleitoral que só os tontos não perceberam que iria acontecer. Os tontos e os clientes do embuste.

O que estamos a assistir é a negação de tudo aquilo que gente, na qual me incluo, acredita ser o ideal social-democrata. A política acabou para este PSD. Apenas vale a vingança pessoal e ódios mesquinhos sem grandeza nem sentido de serviço ao País. O notável discurso de Francisco Pinto Balsemão produzido esta semana está cheio de razão e de esperança. E de ameaças. E com toda a razão: este caminhar pela política sem ideias, sem propostas, carregado de insinuações ao carácter das pessoas, tem como objectivo o suicídio do próprio partido. E da Oposição, que se admite ser a mais idónea para poder governar.

Não são escutas arrancadas a ferros de um qualquer processo judicial que resolvem ou entregam esperança a um País arruinado pela crise e exausto de tanta canalhice. Aquilo que se espera de um projecto social-democrata é que nos diga como baixamos o desemprego, em vez de ser Paulo Portas a dizer. Como temos melhor educação, e não esperar que seja outro a dizê-lo. Como teremos melhor saúde. Como teremos mais dignidade e riqueza.

Temos esse direito, de saber quais as alternativas que se colocam para que a Justiça seja mais ágil e justa, para que o tecido empresarial ganhe energia, para que a competitividade cresça. Sobre isto, ouvimos Sócrates, Portas e o populismo do BE. O PSD está entretido com as escutas, atónito e ressabiado, sem ainda ter percebido que serve, ou devia servir, um povo que tem fome e está desempregado. É este o grande erro de Sócrates. É por aqui que a batalha política se ganha ou perde. Agora, com escutas? Não me lixem. ( Correio da Manha)

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