O Crime começa cedo
É assim que os portugueses tem que suportar situações destas
"Espetei-lhe a faca, por trás, junto às costas, quando ele estava a levantar-se do chão." Foi assim que Ruben M. , de 18 anos, de forma fria e sem mostrar arrependimento, confessou ontem em tribunal ter matado o aluno da Casa Pia de Lisboa, Eucrides Varela, de 16 anos, a 12 de Dezembro do ano passado. E garantiu que agiu sozinho, numa luta corpo a corpo com a vítima, ilibando, assim, os restantes 15 arguidos que com ele começaram a ser julgados no Campus da Justiça de Lisboa.
Teria sido uma confissão integral e sem reservas, que o Ministério Público (MP) chegou mesmo a requerer, mas o único arguido que se mostrou disposto a falar, além de Ruben M., garantiu, por seu lado, que viu um grupo a bater em Eucrides, não tendo vislumbrado ver Ruben ali envolvido. Perante as contradições, o colectivo de juízes, presidido por Anabela Morais, com Pedro Lucas e Flávia Macedo, indeferiu o requerido, optando pela integral produção de prova.
No banco dos réus sentam-se 16 "miúdos", com idades entre os 17 e os 20 anos, todos portugueses de origem africana, a maioria residente na bairro de Casal da Mira, na Amadora, e alguns do bairro de Porto Salvo , em Oeiras. Sobressaem na irreverência, até no modo de estar em tribunal. Mas, notou-se, sobretudo, ao final, quando tentaram impedir o trabalho da equipa de reportagem da TVI que, no exterior, acabara de entrevistar Reis Nogueira, o advogado da família de Eucrides. "Está a mentir", diziam alguns, enquanto outros tentavam agarrar a câmara de filmar. A certa altura perceberam que a iniciativa lhes poderia dificultar mais a vida e desistiram.
Aquele grupo a 12 de Dezembro "invadiu" o Colégio de Pina de Manique, indo em socorro de um colega, aluno da instituição, que por SMS os avisara ter sido alvo de agressões por parte de outros alunos moradores no bairro de Santa Filomena, na Amadora.
Segundo Ruben M., chegados ao local, cerca de 20, uns de carro e outros de autocarro, Hélio, o amigo que enviara a mensagem, já estava na rua à espera deles, tendo apontado os três autores da agressão. Foi quando entraram nas instalações, alegadamente sem reacção dos seguranças, para apanhar o trio. Um destes ficou para trás. Era Eucrides. Ruben M. lutou com ele e espetou-lhe uma faca, deixando-o depois a lutar com um outro indivíduo que não identificou, sabendo mais tarde que, da confusão, resultou uma vítima mortal.
Um outro arguido, Luís, garantiu que a história não foi bem assim. Na sua versão, Eucrides foi rodado por um grupo que o agrediu e esfaqueou, não estando Ruben entre os agressores. Os restantes 14 arguidos não falam. O julgamento prossegue hoje." (Oeiras-Notícias 24h)
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