MINHA PÁTRIA MINHA
Minha Pátria!
Minha Pátria Minha!
Que luta, para te libertares do cárcere medonho
Onde quase morreste esquecida!
Que sofrimento!
Que raiva !
Que dor!
E o algoz do tempo a falar de amor?!
E a violar-te na imunda cela
Onde te guardava
Com guardas à porta,
Grades na janela,,
... E, tu, quase morta!
Minha Pátria!
Que triste provação!
Qual herança sofrida por quem te amou e te ama!
Morreram filhos teus
Sob a noite quase eterna que se abateu...
Houve fome de justiça
-Esse alimento, esse pão
Que te roubaram da mão -
E a mentira era a mesa
Onde comiam os lobos, sob a qual dormia o cão.
Enquanto o tempo corria
A esperança esperava
E definhava
E gemia,
Arrastando-se no tédio que alastrava!
Mas a fé escapou da infinita agonia
para gritar
E gritou, gritou, gritou...
E os poetas ouviram
E a tua alma espezinhada, sonhou!
Sonhou ainda,
Sonhou.
E, um dia, Abril chegou.
Aleluia!
E o Sol raiou.
O Sol raiou para todos
E os poetas cantaram.
Teus mortos ressuscitaram,
Tu deste-me a Liberdade
E eu cai em seus braços.
Mas o tempo não parou.
Tu deixaste de sonhar
e o Abril passou.
Deixou-te esta nostalgia
Com que matas as saudades dos teus sonhos.
Tens de voltar a sonhar, Pátria minha!
Tens de voltar a sonhar,
Mesmo que tempos medonhos
Venham para te matar.
Mas tu nunca morrerás!
Tens de voltar a sonhar Abril!
Abril! Que saudade!
Tens de voltar a sonhar,
Mas com um Abril de verdade
Que venha para ficar!
Maia, Abril de 1993
Versos na Guerra Versos na Paz - edição do autor
Colecção : Verso Livre
Sérgio O Sá