“Nas TVs portuguesas, a situação na Grécia é contada através da seguinte narrativa: eis um pobre povo periférico que está a sofrer as agruras de uma crise internacional, eis um povo do sul da Europa a sofrer às mãos da pérfida Merkel. Ora, já é tempo de sair desta superficialidade. Já é tempo de perceber que os gregos têm muitas culpas no cartório. Já é tempo de escavar a sério na situação grega. E, assim que começamos essa investigação, a conclusão é invariavelmente a mesma: os gregos não foram sérios, não estão a ser sérios. Os gregos levaram a lógica dos "direitos adquiridos" até à demência, até à falta de vergonha.
Os exemplos desta falta de seriedade são imensos. Em 1930, um lago na Grécia secou, mas, o Estado Social grego acha que tem de existir um Instituto para a Protecção do Lago Kopais - o nome do tal lago que secou em 1930, mas que em 2011 ainda tem dezenas de funcionários dedicados à sua conservação. Calculo que estes funcionários devem estar a rua a gritar "abaixo o fascismo". Mas há mais. Sabiam que na Grécia as filhas solteiras dos funcionários públicos têm direito a uma pensão vitalícia após a morte do mãe/pai-funcionário-público? Não é genial? Na Grécia, os direitos adquiridos adquirem-se por, vá, osmose familiar. Na Grécia, X e Y recebem 1000 euros mensais - para toda a vida - só pelo facto de serem filhas de funcionários públicos falecidos. Há 40 mil mulheres neste registo. E, depois de um ano de caos, o governo grego ainda não acabou com isto completamente. Calculo que estas meninas devem ir para a rua fazer manifs. Coitadinhas.
Querem mais? Num hospital público, existe um jardim com quatro (4) arbustos. Ora, para cuidar desses arbustos o hospital contratou quarenta e cinco (45) jardineiros. Num acto de gestão mui social (para com o fornecedor), os hospitais gregos compram pace-makers quatrocentas vezes (400) mais caros do que aqueles que são adquiridos no SNS britânico. E, depois, claro, existem seiscentas (600) profissões que podem pedir a reforma aos 50 (mulheres) e aos 55 (homens). Porquê? Porque são profissões de alto desgaste. Dentro deste rol de malta que trabalha como mineiros, encontramos cabeleireiras e apresentadores de TV. Sim, faz todo o sentido: cortar cabelo é o mesmo que estar nas minas da Panasqueira.”